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Aprenda a navegar no universo da empatia

Por Suzanne Barnecut

Última atualização em 8 setembro 2017

 

As chances de que encontremos atos de empatia no nosso dia a dia são maiores do que imaginamos. A empatia é o que nos motiva a segurar o carro parado um tempinho a mais para que aquela mãe atravesse a rua com seus filhos, ou o que nos faz comprar um café da manhã quentinho para aquele homem que vive na rua. A empatia é reforçada por aquela enfermeira que atende a fila de pacientes por um tempinho a mais para poder dar orientações médicas e pessoais, ou por aquele gerente de hotel que oferece uma garrafa de champagne a um casal de clientes recém casados.

Em uma escala maior, a empatia tem um papel que nos motiva a enviar doações em dinheiro para organizações que ajudam vítimas de grandes desastres mundiais, ou para a Alemanha conseguir aceitar milhares de refugiados sírios em seu terreno. Ela é uma força motriz por trás de várias ações positivas no mundo, mesmo quando ela vem em resposta a outras ações que não são tão boas assim.

Mas o que é empatia exatamente e de onde ela vem? Ela é inerente a qualquer pessoa ou somente a um grupo específico? A empatia pode ser encorajada e perpetuada? A nossa capacidade de senti-la pode ser aumentada?

Por definição, empatia é a habilidade de sentir, entender e compartilhar o sentimento de outra pessoa. De maneira coloquial podemos dizer que é como se estivéssemos nos colocando no lugar dessa outra pessoa. Ela não é a sensação de se sentir mal por alguém (isso é se simpatizar com a causa da pessoa), mas sim a capacidade de compreender por que uma pessoa está se sentindo mal. Se sentir empático com relação a algo, de fato, não significa que vamos colocar o sentimento dessa outra pessoa na frente dos nossos próprios – ou mesmo que a gente vá tomar algum tipo de atitude em relação a isso. Ser empático só significa que você consegue compreender o que está acontecendo com aquela pessoa.

Esse conceito pode parecer simples, porém quando paramos e levamos em consideração o grande número de interações que realizamos diariamente, praticar a empatia é, em muitas situações, uma grande pedida. Na verdade, a ciência já mostrou que a empatia ocorre automaticamente, e que a experiência de cada pessoa com esse sentimento pode variar bastante é ter bastante relação com o contexto em que ela se encontra. De acordo com um estudo feito com alunos de uma universidade durante um intervalo de tempo de 30 anos, a empatia é um sentimento que está em queda.

A empatia e o cérebro

Nós não precisamos que a ciência nos diga que algumas pessoas parecem ter mais empatia que outras, mas é verdade que o nosso nível de empatia varia porque nós não somos criados de maneira igual. Essa situação fica mais aparente quando você observa populações com altos índices de doenças psiquiátricas, como o autismo e alguns tipos de demência. A empatia costuma ser mais evidenciada em pessoas saudáveis.

Nos últimos anos, a empatia tem se tornado cada vez mais difícil de se identificar. Entretanto, nós sabemos agora que ela está presente em diferentes partes do cérebro e que seu ponto de origem e centro primário de ativação fica no córtex insular anterior. Mas mais interessante do que isso é conseguir identificar qual a parte do nosso cérebro que se destaca quando aparentamos não sentir empatia por algo.

Quando o giro supramarginal é interrompido, seus próprios sentimentos escondem sua capacidade de se identificar com o sentimento de outra pessoa.

De acordo com o Instituto Max Planck de Ciências do Cérebro e Estudos Cognitivos, uma pequena parte do córtex cerebral chamado o giro supramarginal direito é que nos dá a habilidade de reconhecer quando sentimos ou não empatia por algo ou alguém. Pesquisadores determinaram que humanos são naturalmente egocêntricos (nenhuma surpresa aqui), mas que essa região do cérebro é que nos permite fazer da empatia uma escolha. Quer dizer, se o giro supramarginal está funcionando corretamente. Quando o giro supramarginal é interrompido, seus próprios sentimentos escondem sua capacidade de se identificar com o sentimento de outra pessoa.

O que interrompe a empatia?

No estudo do Instituto Max Planck, os participantes foram agrupados em duplas, e cada pessoa recebia uma imagem agradável ou desagradável para avaliar. Ao mesmo tempo elas recebiam algo prazeroso ou desconfortável de tocar, como plumas ou lodo. (O estímulo do tato garantia que os pensamentos dos participantes não enganassem seus sentimentos na hora de tomar uma decisão.) O resultado foi impressionante: Quando recebem diferentes estímulos, os participantes são mais capazes de projetar seus sentimentos e compreender outras pessoas, do que quando recebem estímulos semelhantes, confirmando que a empatia se baseia em estar em um ambiente neutro ou compartilhado.

“Até o momento os modelos de neurociência social afirmavam que nós praticamente desenvolvemos nossas próprias emoções como uma referência para a empatia. Isso só funciona, entretanto, se estamos em um estado neutro ou comum ao nosso par – caso contrário o cérebro necessita de reagir e corrigir”, afirma Tania Singer, que liderou o time de pesquisa.

Criar um estado de neutralidade ou compartilhado é mais fácil quando falamos do que quando realmente precisamos fazer. Como uma população humana nós estamos sempre trabalhando em diferentes tipos de trabalhos, celebrando marcos pessoais ou lamentando derrotas, e somos afetados por diferentes situações em todos os minutos da nossa vida: dormimos pouco, bebemos muita cafeína, enfrentamos o trânsito pesado e vivemos estressados. 

É seguro afirmar que nossas próprias emoções estão sempre à flor da pele. Além disso, em adição aos diferentes estímulos, os pesquisadores descobriram que tomar rápidas decisões pode ser prejudicial para a capacidade de ter empatia. Sob pressão o cérebro tem uma grande dificuldade em distinguir o seu próprio estado emocional, quando comparado com os outros.

Sob pressão o cérebro tem uma grande dificuldade em distinguir o seu próprio estado emocional, quando comparado com os outros.

A pesquisa mostra que é particularmente difícil de se identificar com o sofrimento, porém diferenças na saúde e no poder também têm impacto na empatia. Pessoas que recebem cargos altos, mesmo que temporariamente, tiveram atividade cerebral significativamente relacionada com uma baixa capacidade de empatia. Fatores biológicos – como hormônios secretados em momentos de estresse – também podem prejudicar a empatia. As descobertas relevam que é mais difícil criar empatia com estranhos porque conhecer uma pessoa nova pode liberar uma resposta hormonal estressante para o organismo.

O poder da sugestão

Então, se a empatia pode falhar quando é difícil de se relacionar com pessoas com necessidades, em quadros de sofrimento, ou que nós não conhecemos, o que podemos fazer? Karina Schumann, Jamil Zaki e Carol S. Dweck, psicólogos da Universidade de Stanford, podem ter a resposta. Eles avaliaram fatores que sinalizavam quando uma pessoa se motivava a tentar criar a empatia por alguém em situações desafiadoras.

Os resultados de sete estudos diferentes mostraram que pessoas que pensavam na empatia como uma habilidade que poderia ser trabalhada – ao invés de uma característica inata – fizeram um esforço maior para ser empáticos. O sétimo estudo, em particular, sugeriu que ter um interesse em ser empático já ajuda a desenvolver essa característica. Em outras palavras, se você quer ser mais empático com as pessoas, você pode.

“Nós definimos o esforço empático como uma boa vontade de investir tempo ou energia em sentir empatia, e nós afirmamos que pessoas podem controlar sua experiência empática ao ampliar a quantidade de esforços que elas fazem para alcançar esse estado,” Schumann, Zaki e Dweck afirmaram. Por exemplo, se o seu objetivo é sentir mais empatia por alguém, você pode escolher passar mais tempo com ela, fazer mais perguntas ou escutá-la mais para poder aumentar a sua capacidade de entender suas emoções e perspectivas, ou, conscientemente, tentar compartilhar do mesmo estado psicológico que ela.

“O esforço empático pode ser exatamente o que precisamos em situações onde é difícil vivenciar a empatia, apesar de ser positiva para melhorar situações sociais como nos conflitos, nas relações em grupo ou em contextos em que será preciso oferecer ajuda,” eles reportaram. Com essas descobertas fica fácil entender que a empatia funciona como um músculo que, quando flexionado, se fortalece e aumenta. Simplesmente por adotar um pensamento mais maleável você já consegue um bom ponto para iniciar.

“O esforço empático pode ser exatamente o que precisamos em situações onde é difícil vivenciar a empatia, apesar de ser positiva para melhorar situações sociais como nos conflitos, nas relações em grupo ou em contextos em que será preciso oferecer ajuda.” – Psicólogos da Universidade de Stanford.

Do outro lado da história – o lado negro, como o psicólogo Paul Bloom se refere – pessoas que são naturalmente mais empáticas podem também ser mais agressivas quando expostas a uma situação de sofrimento. Na realidade, ele afirma que nossa reação a algo atroz, como um sofrimento causado pela guerra, pode criar um viés a favor da própria guerra, ou por punições mais extremas. Isso está de acordo com a linha da ciência que se encontra por trás da empatia: sem se sentir natural ou afetado por um mesmo estímulo, nós estamos mais propensos à projetar nossos sentimentos por outros, e isso também acontece quando ficamos bravos, nós vamos projetar raiva ou tomar decisões baseadas no ódio.

Renda esses formadores

Muitos estudos confirmam que você pode aprender a ter mais compaixão. “Porque o circuito neural do nosso cérebro é maleável e pode ser modificado pela neuroplasticidade, porque a  tendência por empatia e compaixão de uma pessoa jamais pode ser consertada,” escreveu Christopher Bergland, o autor de “The Athlete’s Way”. Isso foi corroborado por Magali Charmot, uma diretora de contas na Seek, uma empresa global de consultoria em pesquisa e inovação focada em pesquisar a empatia e o treinamento. “Empatia começa com a auto-consciência”, disse Charmot. “Treinar a empatia ajuda pessoas a entender os dois tipos de empatia (i.e. cognitiva versus contagiosa) e ajuda a trazer a empatia para um nível de consciência. Nós temos a habilidade de escolher nos tornar empáticos.”

Não importa se você prefere tomar um caminho mais formal no treinamento da empatia ou, como Bergland recomenda, tentar a experiência de um voluntariado, realizar atividades físicas desafiadoras ou praticar a meditação – você está tentando expandir seus horizontes e aumentar suas perspectivas. Mesmo quando você tira um tempo para ler por prazer, isso ajuda a desenvolver um pouco mais de empatia.

Isso é uma ótima notícia para a humanidade como um todo, mas também para aqueles que têm empresas que dependem muito da empatia assim como qualquer outra característica, como ser parte de um time ou escrever bem. Ao final de tudo, o humano é uma espécie complicada com cérebro complicado. Estamos trancados em um complexo de relacionamentos interpessoais, unificados com sentimentos. A ciência, da mesma maneira que o senso comum, nos diz que não seremos capazes de nos tornarmos empáticos por todo o tempo, mas podemos utilizar o que sabemos sobre empatia para tentar nos tornar mais empáticos quando precisamos ser.

Suzanne Barnecut é uma produtora de conteúdos de marketing para a Zendesk e uma frequente colaboradora da Relate. Ela é fascinada com tecnologia, mas uma apaixonada por livros de papel e cartas feitas à mão. Encontre-a no twitter: @elisesuz

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